Mapa Obstrética

O rastreio da hipertensão nas grávidas é de extrema importância porque a hipertensão - a par de outras situações, como a diabetes, gravidez gemelar, certas doenças autoimunes, a doença renal - aumentam o risco de complicações hipertensivas maternas e fetais, algumas muito graves, como a pré-eclampsia.
A hipertensão gestacional e a pré-eclampsia surgem depois da 20ª semana de gestação. A pré-eclampsia, mais grave, distingue-se da hipertensão gestacional porque é acompanhada de proteinúria (presença de proteína na urina) ou de lesão de outros órgãos ou sistemas.
Nas grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia, está recomendado o tratamento preventivo com aspirina que deve ser iniciada, idealmente, antes da 16.ª semana de gravidez. Quando iniciada mais tarde o benefício é muito menor. Mas surge aqui um problema: como identificar, antes da 16.ª semana, as grávidas normotensas em risco de virem a desenvolver hipertensão gestacional e pré-eclampsia a partir da 20.ª semana.
A MAPA obstétrica (medição ambulatória da pressão arterial durante 48 horas), que se realiza em farmácias, ao permitir identificar precocemente as grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia pode mudar o cenário para um final de gravidez e parto tranquilos.
Cerca de 15% a 25% das grávidas inicialmente diagnosticadas com hipertensão gestacional evoluem para pré-eclampsia. Esta condição de alto risco pode envolver eventos adversos fetais e neonatais, incluindo descolamento da placenta, restrição do crescimento intrauterino (fetos pequenos para a idade de gestação), parto prematuro e morte perinatal.
A pré-eclampsia é responsável por até um terço de todas as mortes maternas, sendo a hemorragia intracraniana a causa mais comum. Outras complicações graves, como insuficiência renal aguda, lesão hepática, alterações da coagulação e lesões graves do sistema nervoso central (depressão do estado de consciência, convulsões, acidente vascular cerebral ou perda de visão), podem surgir em cenário de pré-eclampsia.
Apesar dos progressos da medicina, a única cura reconhecida continua a ser a evacuação uterina do feto e da placenta, com todos os riscos inerentes a um parto prematuro.
A identificação precoce das grávidas em risco de hipertensão gestacional e pré-eclampsia é um imperativo para que o tratamento profilático com aspirina possa ser iniciado, idealmente, entre a 12.ª e a 16.ª semanas de gestação. Infelizmente, a metodologia e os critérios utilizados para o diagnóstico de hipertensão em mulheres grávidas não servem este propósito porque não têm em conta: que os limiares de normalidade da pressão alterial (PA) das mulheres são inferiores aos dos homens; que a PA nas grávidas é inferior à das mulheres não grávidas da mesma idade; e que os limiares de normalidade variam a cada semana de gestação, porque a PA baixa gradualmente até à 20.ª semana numa gravidez normal. A partir dessa semana, a PA eleva-se até atingir valores próximos dos basais.
Bibliografia recomendada
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